terça-feira, 31 de maio de 2011

Folha de S.Paulo - Passado em branco - 31/05/2011

Folha de S.Paulo - Passado em branco - 31/05/2011

PASSADO EM BRANCO

Pode apostar: quem diz se lembrar de fatos ocorridos antes de seus quatro anos de vida está confundindo histórias ouvidas com memória própria; pesquisa mostra que esquecemos da nossa infância ainda crianças

Alexandre Rezende/Folhapress
Rafael Agulha de Freitas

JULIANA VINES
DE SÃO PAULO

A história começa com um tombo, uma viagem em família, uma briga na escola por volta dos quatro, cinco anos. Antes disso, nada.
"Desconhecemos e esquecemos muitos aspectos da nossa vida. É muito provável que você saiba pouco sobre si mesmo", diz Fani Hisgail, psicanalista.
E é justo a infância, tão saudosa e cantada pelos poetas, a época mais esquecida.
Ironia biológica? Os especialistas chamam de amnésia infantil, e não tem nada a ver com lapsos de memória, mas com os quatro primeiros anos de vida que parecem ter sido apagados com borracha.
"Sim, pode-se dizer que perdemos parte da nossa infância", afirma à Folha Carole Peterson, pesquisadora da Memorial University of Newfoundland, no Canadá.
Peterson coordenou uma pesquisa, publicada no começo do mês na revista "Child Development", sobre memórias de infância.
No estudo, 140 crianças entre quatro e 13 anos foram convidadas a contar suas primeiras memórias (fizemos o mesmo com quatro pessoas, leia depoimentos nesta e nas páginas seguintes).
Dois anos depois, as crianças da pesquisa tiveram que contar novamente as lembranças mais antigas e estimar quantos anos tinham quando tudo aconteceu.
As mais novas trocaram as memórias velhas por mais recentes. As maiores mantiveram as mesmas lembranças. Moral da história: esquecemos a infância enquanto ainda somos crianças.
Não há dúvida que crianças conseguem armazenar informações, segundo Martín Cammarota, pesquisador em neurofisiologia da PUC-RS.
"Elas sabem o que aconteceu ontem ou anteontem, mas são lembranças de curta duração."
A neurociência não tem certeza de por que isso acontece. Uma das hipóteses é que o cérebro ainda não estaria pronto para gravar memórias à tinta, de acordo com Rodrigo Neves Pereira, pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
"É como se as crianças escrevessem a lápis no disco rígido da memória."
Estruturas cerebrais responsáveis por processar e arquivar informações não estão totalmente desenvolvidas aos dois anos ou três anos.
Na mesma direção, o neurocientista Ivan Izquierdo argumenta que, nessa idade, não dominamos totalmente a linguagem.
"As memórias de antes dos três anos são gravadas em códigos não linguísticos, que não fazem sentido depois que somos adultos."
Não por acaso, lembranças mais claras coincidem com o início da alfabetização. Algumas pessoas, porém, desenvolvem essa capacidade mais cedo. Mistérios.

SELEÇÃO INCONSCIENTE
"Amnésia infantil não tem relação com o amadurecimento do cérebro", diz logo de cara Renata Petri, psicanalista professora da Unifesp.
Para a psicanálise, parte da infância é esquecida porque as lembranças são conflitantes, dolorosas. "Aquilo que traz conflito elimina-se da consciência e vai constituir o inconsciente."
Nessa visão, o ser humano sofre os efeitos dessas memórias encobertas pelo resto da vida, mesmo sem conseguir lembrá-las. Daí viriam alguns medos e traumas.
"É comum estabelecermos a relação entre acontecimentos de infância e traumas futuros, mas não se pode reduzir a ideia de trauma a isso", afirma Fani Hisgail.
A neurologia até concorda que memórias esquecidas podem, sim, interferir na formação de novas lembranças, mas tem uma visão diferente do que é o inconsciente.
"São memórias que não estão ativas o suficiente para serem lembradas, mas que, mesmo assim, influenciam outros circuitos", comenta Gilberto Xavier, pesquisador em neurofisiologia da USP.
A influência do passado sobre o futuro esbarra em outro ponto: a competição entre acontecimentos. Não há como prever quais fatos serão lembrados a longo prazo. Depende do quanto prestamos atenção a eles, do excesso de informações e de fatores afetivos.
"Aspectos emocionais moldam a aquisição de memórias, influenciam a razão. É o que chamamos de erro de Descartes", diz Pereira.
Tombos, cortes e acidentes físicos são mais marcantes por motivos biológicos, de acordo com Xavier. "Você se lembra de um acidente para ter condições de evitá-lo. Biologicamente, esse é o sentido da memória." Parece simples. Mas, cada vez que um fato é resgatado, acrescenta-se um aspecto, uma ponta no novelo.
Depois de recordar algumas vezes acontecimentos distantes, é quase impossível separar a verdade do mito. "Criamos falsas memórias, e não há nada de patológico nem de malvado nisso", pondera Izquierdo.
É a mentira que não é mentira. Para a psicanálise, não importa. "Tudo é interpretação. Toda memória é uma leitura sem contato direto com a realidade", diz Preti.
Cada nova experiência resignifica a anterior. "De certa forma, o futuro influencia o passado."

domingo, 29 de maio de 2011

Uma pedra no caminho da gestante

PLANTÃO MÉDICO

JULIO ABRAMCZYK - julio@uol.com.br

Uma pedra no caminho da gestante

A reunião anual da "Digestive Disease Week - 2011", realizada entre os dias 7 e 10 de maio em Chicago, nos EUA, mostrou abordagens diferentes para algumas doenças do aparelho digestivo. 
Médicos da universidade de Washington observaram que o excesso de ingestão de carboidratos e frutose às refeições, na gravidez, aumenta o risco de surgirem cálculos biliares nas gestantes.
Segundo os pesquisadores, problemas relacionados a pedras na vesícula biliar são frequentemente causa não obstétrica de internação hospitalar de mulheres, um ano após o nascimento do bebê.
A repercussão de problemas emocionais no estômago e nos intestinos é um importante e muito bem estudado capítulo da medicina psicossomática. 
na reunião, foi discutida a possibilidade de muitos pacientes (e às vezes seus médicos) confundirem distúrbios intestinais como diarréias e gases, em episódios repetitivos, a intolerância à lactose (pessoas que não podem tomar leite ou comer seus derivados), quando, na realidade, representam a repercussão no organismo de problemas emocionais. 
Destacaram que, no caso de não ser identificada a origem do distúrbio, as pessoas devem evitar dieta isenta de laticínios pela possibilidade de surgir deficiência de cálcio no organismo, o que contribui para o surgimento da osteoporose. 
outro estudo apresentado analisou os benefícios de exames de sangue para detectar preventivamente doentes assintomáticos, mas portadores da doença celíaca. 
ela provoca distúrbios intestinais pela intolerância ao glúten, uma proteína encontrada no trigo, no centeio, na cevada, na aveia e no malte. 
Seus portadores devem excluir das refeições alimentos com glúten.
essa pesquisa mostrou que pacientes aparentemente assintomáticos apresentavam sintomas subclínicos e qualidade de vida reduzida ao consumir alimentos com glúten em sua composição. 

PRÊMIO
o instituto do Câncer do estado de São Paulo, em parceria como Grupo Folha, estabeleceu o Prêmio Octavio Frias de oliveira, neste ano Em sua 2ª edição, visando incentivar a pesquisa nacional na área da prevenção e do tratamento do câncer. 
As inscrições podem ser feitas até o dia 1º de julho. informações:
www.icesp.org.br/premio/regulamento.pdf.

Novo método tem maior taxa de sucesso contra o cigarro

Novo método tem maior taxa de sucesso contra o cigarro

Tratamento à base de remédios faz mais ex-fumantes, com menos recaídas

Sistema atinge 55% de eficácia, mas deixa de lado a terapia, que aumenta as chances de vencer a dependência 

CLÁUDIA COLLUCCI
DE SÃO PAULO

Um novo modelo de tratamento do tabagismo desenvolvido no InCor (Instituto do Coração) tem feito mais pessoas pararem de fumar, com menos chances de recaídas. 
Cerca de 25 milhões de brasileiros acima de 15 anos são fumantes, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). 
Chamado de PAF (Programa de Assistência ao Fumante), O modelo envolve três etapas: um diagnóstico mais preciso do grau de dependência, uma combinação de medicamentos e o uso de uma escala em que o médico vai medindo e tratando o desconforto causado pela abstinência do cigarro. 
A cardiologista Jacqueline Scholz Issa, criadora do método, que está há 18 anos à frente do ambulatório de tratamento do tabagismo do InCor, diz que a taxa de eficácia do programa, no período de um ano, é de 55% -contra 34% da que existia cinco anos atrás. Os índices de desistência e de recaída caíram de 40% para 26%. 
Esses primeiros resultados, obtidos a partir de 400 pacientes atendidos, foram apresentados à comunidade científica internacional em congresso no Canadá. 
Eles também serviram de base para a elaboração de um software, que pode ser acessado via internet por médicos de todo o país. Centros públicos terão acesso grátis.

EMOÇÕES
O sistema permite saber quantos fumantes desistiram do tratamento, quantos sofreram efeitos colaterais dos remédios, quantos tiveram sucesso ou recaídas e quais as causas dos insucessos.
Ele também permite que o médico avalie melhor o grau de dependência do tabaco, levando em conta não só o número de cigarros fumados, mas também as emoções (prazer, ansiedade, tristeza) associadas a ele.
A partir desses dados, Issa desenvolveu uma metodologia de tratamento que considera, entre outras coisas, o grau de desconforto do paciente durante o período de abstinência. 
"É a partir disso que se associa ou não medicamentos. 
O tratamento vai sendo ajustado de acordo como grau de desconforto e é totalmente individualizado", explica. 
As drogas mais utilizadas são a vareniclina (Champix) e a bupropiona (Zyban), além de adesivos e gomas de nicotina.
Antidepressivos também podem ser usados. 

TERAPIA
O programa não envolve abordagens de terapia cognitiva comportamental -o que é recomendado em programa do governo federal. Segundo Issa,uma boa relação entre o Médico e o paciente já garante o suporte necessário na fase de abstinência. 
O tratamento dura, em média, três meses e demanda de quatro a cinco consultas. "O follow up [acompanhamento] também pode ser feito por telefone ou por e-mail", diz. 
Médicos que trabalham com tratamento de tabagismo dizem que as taxas de sucesso do PAF são superiores às verificadas em outros centros, entre 30 e 40%. 
"Os resultados são maravilhosos", resume a psiquiatra Analice Gigliotti, chefe do setor de dependência química da Santa Casa do Rio.
O pneumologista Ricardo Meirelles, do Inca (Instituto Nacional do Câncer), diz ter gostado da proposta do PAF e do fato que ela considera que, mesmo pessoas que fumam pouco, podem ter alto grau de dependência. 
Ambos acreditam, porém, que as chances de a pessoa abandonar o vício são maiores quando o tratamento inclui, além da medicação, abordagens de terapia cognitiva comportamental -técnica através da qual a pessoa tenta entender melhor suas emoções e modifica seu modo de agir.



Só 10% das cidades do Brasil têm programas para tratar tabagismo

DE SÃO PAULO

Pouco mais de 10% dos municípios brasileiros têm programas de tratamento do tabagismo na rede pública de saúde. São 700 cidades de um total de 5.565.
Além de 30 centros ligados aos governos estaduais, desde 2004 o Ministério da Saúde Tem um programa que fornece às secretarias municipais de saúde as medicações (bupropiona e repositores de nicotina,como adesivos) e os manuais utilizados em sessões com abordagens terapêuticas, que discutem a dependência.
O ministério também avalia o custo e a efetividade de fornecer a medicação vareniclina (Champix) no SUS.
Em contrapartida, os municípios devem garantir uma estrutura de atendimento ao fumante e prestar contas de suas ações.
Entre as exigências, estão a contratação de profissionais capacitados, locais para atendimento individual e sessões de grupo e a garantia de fornecimento de equipamentos e de exames necessários durante o tratamento.
A unidade de saúde também deve ser livre de tabaco -ninguém pode fumar no seu interior.

DESINTERESSE
Segundo o pneumologista Ricardo Meirelles, da Divisão de Controle do Tabagismo do Inca (Instituto Nacional de Câncer), a principal dificuldade na expansão do programa tem sido a falta de interesse dos municípios em investir nos tratamentos.
"Falta conhecimento. Estamos avaliando uma forma de sensibilizar os gestores dos municípios que ainda não fazem parte do tratamento do tabagismo", diz ele.
Além disso, Meirelles afirma que há uma dificuldade grande em fazer com que o paciente freqüente o programa até o fim do tratamento.
O Inca ainda não tem dados consolidados sobre as taxas de sucesso e de recaídas verificadas nos municípios que tratam o tabagismo.
(CC) 



DEPOIMENTO

"Já acordava pensando em cigarro"

Isadora Brant/Folhapress
A dentista Léa Márcia Fogaça, 51, que fumou por 40 anos

DE SÃO PAULO

A dentista Léa Márcia Fogaça, 51, fumou por quase 40 anos. Depois de várias tentativas, pensa que, agora, vai abandonar o vício.

 

"Comecei a fumar aos 12 anos, minha avó me ensinou.
Naquela época, era comum reunir minhas tias e primas e todas fumavam.
Como tempo, minha média passou a ser um maço por dia.Fumava em todas as situações, só parava quando estava atendendo os pacientes.
Mesmo assim, acada intervalo, corria para fumar um cigarrinho.
Fumava até a hora de dormir e já acordava pensando em cigarro.
Há cinco anos resolvi parar.
Meu marido deixou o cigarro há 11 anos e fazia pressão para que eu parasse também. Em casa, eu só fumava na varanda.
Tentei várias vezes fazer isso sozinha, mas não consegui.
Sou estressada, ansiosa, e o cigarro sempre foi meu porto seguro.
Cheguei a fazer um tratamento com Champix, mas tive que interromper. Tenho fibromialgia e, na época, as dores musculares ficaram intensas e minha médica pediu para cortar o remédio.
Consegui ficar um ano sem fumar, mas, não resisti.
A vontade foi maior. Há cinco meses, resolvi tentar de novo, dessa vez com esse método [PAF]. Começamos com o Champix, depois associamos a fluoxetina [antidepressivo] e, por último, a bupropiona.
Só depois desses ajustes É que consegui lidar melhor com a abstinência. Não estou mais tão ansiosa.
De vez em quando, sinto vontade, especialmente em ambientes sociais com pessoas fumando e bebendo ou em situações de mais estresse.
Mas,dessa vez, sinto que é para valer." 




terça-feira, 17 de maio de 2011

18 de maio: Comitê Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescenteslança texto base para inicio de atividades alusivas a data


18 de maio
Comitê Nacional lança texto base para inicio de atividades alusivas a data

O Comitê Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes divulgou em seu sítio o texto base que vai nortear as atividades alusivas ao 18 de maio, Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes.
A data foi escolhida durante o 1º Encontro do "End Child Prostitution, Child Pornography and Trafficking of Children for Sexual Purposes" (ECPAT) realizada na Bahia. As 80 entidades participantes votaram pelo dia em memória a Aracelli Cabrera Sanches Crespo, que morreu no dia 18 de maio de 1973 após ser brutalmente violentada. Na época seus violadores, membros influentes da sociedade capixaba, foram absolvidos.
A data tornou-se oficial no País através da Lei N° 9.970 sancionada em 17 de maio de 2000.
Leia a seguir a integra do documento base:

Texto Base – 18 de Maio 2011
O “Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes”, instituído pela Lei Federal 9.970/00, no dia 18 DE MAIO, é uma conquista que demarca a luta pelos Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes no território brasileiro.  Esse dia foi escolhido, porque em 18 de maio de 1973, na cidade de Vitória (ES), um crime bárbaro chocou todo o país e ficou conhecido como o “Crime Araceli”.  Esse era o nome de uma menina de apenas oito anos de idade, que teve todos os seus direitos humanos violados. Esse crime, apesar de sua natureza hedionda, até hoje está impune. A intenção do 18 DE MAIO é destacar a data para mobilizar, sensibilizar, informar e convocar toda a sociedade a participar dessa luta.

A violência sexual praticada contra a criança e o adolescente envolve vários fatores de risco e vulnerabilidade quando se considera as relações de geração, de gênero, de raça/etnia, de orientação sexual, de classe social e de condições econômicas. Nessa violação, são estabelecidas relações diversas de poder, nas quais pessoas e/ou redes satisfazem seus desejos e fantasias sexuais e/ou tiram vantagens financeiras e lucram usando, para tais fins, as crianças adolescentes. Nesse contexto, a criança ou adolescente não é considerada sujeito de direitos, mas um ser despossuído de humanidade e de proteção.  A violência sexual contra meninos e meninas ocorre tanto por meio do abuso sexual intrafamiliar ou interpessoal como na exploração sexual.   Crianças e adolescentes vítimas de violência sexual podem estar vulneráveis e tornarem-se mercadorias e assim serem utilizadas nas diversas formas de exploração sexual como: tráfico, pornografia, prostituição e exploração sexual no turismo. 

As violações dos direitos humanos sexuais de crianças e adolescentes não se restringem a uma relação entre vítima e autor. Essas violações ocorrem (e são provocadas) pela forma como a sociedade está organizada em cada localidade e globalmente. Podem ser destacadas, nesse aspecto, as atividades turísticas que não consideram os direitos de crianças e adolescentes, facilitando ações de exploração sexual. Nesse contexto, também estão os grandes empreendimentos que, quando não assumem a sua responsabilidade social, causam impactos nos contextos locais potencializando a gravidez na adolescência, o aumento de doenças sexualmente transmissíveis, o estímulo ao uso de drogas e a entrada e permanência de meninas e meninos nas redes de exploração sexual.

O enfrentamento à violação de direitos humanos sexuais de crianças e adolescentes pressupõe que a sexualidade é uma dimensão humana, desenvolvida e presente na condição cultural e histórica de homens e mulheres, que se expressa e é vivenciada diferentemente nas diversas fases da vida. Na primeira infância, a criança começa a fazer as descobertas sexuais e a notar, por exemplo, diferenças anatômicas entre os sexos. Mais à frente, com a ocorrência da puberdade, passa a vivenciar um momento especial da sexualidade, com emersão mais acentuada de desejos sexuais. Nessas fases iniciais do desenvolvimento da sexualidade (infância e adolescência), é fundamental a atenção, a orientação e a proteção a partir do adulto. Nenhuma tentativa de responsabilizar a criança e o adolescente pela violação dos seus direitos pode ser admitida pela sociedade.

Aos adultos, além da sua responsabilidade legal de proteger e defender crianças e adolescentes cabe-lhes o papel pedagógico da orientação, acolhida buscando superar mitos, tabus e preconceitos oferecendo segurança para que possam reconhecer-se como pessoa em desenvolvimento e envolverem-se coletivamente na defesa, garantia, e promoção dos seus direitos.

Queremos convocar todos – família, escola, sociedade civil, governos, instituições de atendimento, igrejas, universidades, mídia – para assumirem o compromisso no enfrentamento da violência sexual, promovendo e se responsabilizando para com o desenvolvimento da sexualidade de crianças e adolescentes de forma digna, saudável e protegida.

18 de Maio - Dia Nacional de Combate ao Abuso e a Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes


Comitê lembra no Dia Nacional de Combate à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes que índices continuam alarmantes

A solenidade de abertura da mobilização nacional acontecerá no Palácio do Planalto. Na oportunidade, entidades e pessoas que atuam no enfrentamento à violência sexual infanto juvenil serão agraciados com o Prêmio Neide Castanha de Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes

O respeito aos direitos sexuais de crianças e adolescentes é um ideal a ser alcançado no Brasil. Segundo dados do Disque 100, de maio de 2003 - data em que o serviço entrou em funcionamento - até março deste ano, foram registradas 66.982 denúncias envolvendo situações de violência sexual praticadas contra crianças e adolescentes. É importante ressaltar que, cada uma das denúncias pode representar que houve uma ou mais formas de violência praticadas contra uma ou mais pessoas. O Estado que aparece com o maior número de denúncias, de maio de 2003 a março de 2011, é a Bahia com 7.708 casos, logo após vem São Paulo, 7.297 e Rio de Janeiro com 5.563.

Por essa razão, o Comitê Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes mobiliza toda a sociedade no 18 de maio, Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. Esse ano, a programação nacional inicia como solenidade no Palácio do Planalto, com a presença de representantes do Governo e sociedade civil.

Dados de 2010
Em 2010, foram registrados 12.487 casos de violência sexual contra crianças e adolescentes, segundo dados do Disque 100. Este ano, apenas no primeiro trimestre, foram registrados 4.205 casos.

A maioria das vítimas são do sexo feminino
Os dados do Disque Denúncia, referentes ao período de janeiro a fevereiro de 2011, demonstram que o maior número de vítimas de violência sexual são do sexo feminino, representando 78% das vítimas.

Quando comparado com outros tipos de violência, como negligência e violência física ou psicológica, esses números praticamente se equivalem entre o sexo masculino e o sexo feminino. Quando comparada com as mais variadas formas de violência sexual, praticadas contra crianças e adolescentes, o sexo feminino ainda corresponde à maioria das vítimas: exploração sexual 80%, tráfico de crianças e adolescentes 67%, abuso sexual 77% e pornografia 69%.

18 de maio
Essa data, 18 de maio, foi escolhida como o Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes em virtude de um crime bárbaro ocorrido em Vitória (ES). No dia 18 de maio de 1973, Aracelli Cabrera Sanches Crespo, de nove anos, foi violentamente assassinada, o seu corpo foi encontrado seis dias depois completamente desfigurado e com sinais de abuso sexual. Os responsáveis pelo crime nunca foram responsabilizados, por se tratarem de filhos de pessoas influentes da cidade. Essa data foi definida a partir da lei nº 9.970, 17 de maio de 2000.

Faça Bonito
O enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes tem como símbolo a flor amarela. Com o slogan Faça Bonito. Proteja Nossas Crianças e Adolescentes os representantes da sociedade civil e governo querem sensibilizar a todos para a beleza e a fragilidade da infância e adolescência. Dessa forma, o que se pretende é fazer com que todos assumam a responsabilidade na proteção de crianças e adolescentes.

Karina Figueiredo
Secretária Executiva do Comitê Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes
Fone: (61) 3347-8524

Leila Paiva
Coordenadora do Programa Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes
Fone: (61) 2025-9907